Re-tratar

[Foto: Lucas Magno]

Tenho que aprender a andar com uma máquina na mão, pra fotografar cada momentinho. Se bem que os retratos que meus olhos tiram são muito melhores , guardam também os sentimentos e o que está dentro dos olhares, e, quando são de fato importantes, ficam pra sempre.
Uma dos meus últimos retratos está martelando em minha cabeça, preciso “re-retratá-lo” por aqui. Sábado a noite, na porta daquela igreja bonita, cotada e lotada, mas um queria entrar. Lá dentro o pastor falava sobre purificar-se, santificar-se... O moço parecia gostar disso de purificar, afinal, há quanto tempo não ficava limpo! Mas aqueles que estavam lá dentro eram puros demais, não podiam se misturar. O moço tentou entrar, mas acabou sendo enxotado. Uma, duas, três vezes... Não queriam humanos ali, só entravam santos.
Foi aí que apareceu o Peter Pan. Peter Pan foi o único que entendeu de fato o que era purificar. Levou o moço lá pra dentro, tentaram o impedir, mas ele era forte. O ofereceu água e o sentou num banco. As duas moças daquele banco trataram de se espremer na outra extremidade, afinal, aquele mendigo era muito fedorento.
Chocada. Foi assim que fiquei naquele momento, ou melhor, estou até agora. Onde está o amor naquelas pessoas? E onde está Deus? Deus é amor, puramente amor. Ali só pude ver Deus no Peter Pan. Precisamos retratar essas coisas e nos analisar. Quantas vezes temos nos omitido? E além de retratar precisamos tratar. Remediar tudo isso. Ou melhor, re-tratar, porque Jesus já fez isso uma vez. Para purificar é preciso descer, se sujar e feder pelos outros. Isso é cristianismo. Só espero que o moço tenha participado do lanche após o culto.

Fica uma pergunta: Jesus usava desodorante?